Dia 10: Quarta-Feira FERREIROS – MONTE DO GOZO
Esta iria-se revelar uma etapa difícil. Comecei por repetir o troço até Portomarin, desta vez na companhia da Veronique que uma vez mais se safou muito bem. Reforço a ideia de que era um trilho bastante técnico, a exigir perícia e atenção. Contudo, começar o dia de forma tão divertida faz-nos esquecer que temos uma vida de rotina à nossa espera!
Chegados a Portomarin, era hora de nos separarmos – esta seria a última vez. Foi com muita tristeza que me despedi da minha boa companheira de viagem, mas tínhamos camiños diferente para seguir - c’est la vie.
O camiño seguia por alguns bons trilhos que nos primeiros dez quilómetros obrigava a subir cerca de 340 mts. Por vezes afastava-se da estrada nacional, mas a maior parte do caminho até Palas de Rei seguia paralelamente à estrada. A quantidade de peregrinos caminhantes a esta hora era impressionante, o que me obrigava muitas vezes a seguir pela estrada nacional – era a hora de ponta!
O caminho atravessava várias pequenas aldeias, num ambiente claramente rural. E o trajecto era de um sobe e desce constante, a tornar a etapa dura, apesar de bonita. Numa das aldeias, enquanto tomava um lanche, vi passar o casal de Málaga. Cumprimentei-os com um aceno à sua passagem enquanto os via afastarem-se – provavelmente chegariam hoje a Compostela!
Voltando à estrada, e já perto de Melides, encontrei três peregrinos a cavalo (só tinha visto outros depois de Puente la Reina). Esta seria a segunda forma mais comum de viajar antes do aparecimento da bicicleta, mas nos dias de hoje já se torna uma raridade – encontrar estes peregrinos trás um misticismo especial ao camiño.
Por esta altura já as nuvens tinham desaparecido, dando lugar a um céu azul intenso, que embelezava ainda mais o caminho. Como não há bela sem senão, também o calor se tornou intenso, representando mais um obstáculo no dia de hoje!
Passagem pela localidade de Boente onde se encontra o marco a indicar a distância de 50 quilómetros – ponto obrigatório para mais uma foto. A localidade de Arzúa já se encontrava próximo. Chegar a esta cidade representava que já só faltava um terço do caminho até Compostela. Atravessei as suas ruas, e encontrei uma praça onde estava muita gente – aí estavam a almoçar os espanhóis que encontrei em Portomarin. Tivemos um pouco a trocar impressões sobre como tinha resolvido o meu problema de alojamento e como estava a decorrer o dia. Aproveitei para encher o cantil numa fonte e voltar ao caminho. Procurava agora encontrar onde almoçar numas das pequenas aldeias que tinha pela frente. Assim foi, cerca de cinco quilómetros depois encontrei um restaurante de estrada (a estrada era o trilho) com esplanada e tudo. Um bom local para descansar e me refrescar com uma bela caña.
Enquanto almoço, ouço atrás de mim um “então, tudo bem?” dirigido a mim. Tinham acabado de chegar três BTTistas portugueses, que ao reconhecerem o meu jersey (da maratona de Portalegre) identificaram-me como conterrâneo. Estivemos um pouco à conversa, fiquei a saber que estavam a fazer o caminho do Norte e que iriam até Finisterra.
O trilho seguia agora à sombra de umas árvores frondosas, o que sem dúvida ajudou na realização destes primeiros quilómetros depois do almoço. Até porque o trajecto iria endurecer e o calor, forte, não iria ajudar nada - o meu ritmo de pedalada começava a baixar consideravelmente.
O mais penoso foi fazer uma elevação de cerca de 130 metros em cerca de seis quilómetros praticamente sem sombra – foi sufocante! No final contornava-se o aeroporto e entrava-se num trilho muito bem arranjado, com placas indicativas e zonas de descanso. Passava-se depois para um trilho, a descer, de cerca de quatro quilómetros pelo meio da mata, onde no final se tinha de atravessar um túnel que cruzava a estrada nacional para se chegar a Lavacolla. Novamente outra subida, desta vez em estrada asfaltada com cerca de três quilómetros e mais cem metros de altimetria.
Vencendo este obstáculo, o dia estava praticamente concluído pois Monte do Gozo estava perto e eu ficaria por ali. E assim foi, mais dois ou três quilómetros e lá estava a indicação para o super albergue do Monte do Gozo. À entrada do recinto, tempo ainda para uma foto, pois existe um grande monumento dedicado aos peregrinos.
O albergue como referi era super, parece que tem 800 camas e realmente mais parece uma cidade de peregrinos. Para além dos alojamentos, tem ainda amplas áreas com restaurantes e cafés, esplanadas, lavandarias, hotel, entre outras facilidades. As camaratas e os balneários também estavam muito bem.
O balanço hoje foi positivo – estava às portas de Compostela. Estava agora sozinho, mas o camiño, apesar de duro, tinha sido espectacular. E o facto de ter chegado aqui, a somente cinco quilómetros de objectivo, significava que iria conseguir concluir a minha demanda por terras espanholas, situação que cheguei a por em causa ao segundo dia. Estava muito feliz.
Dados da etapa:
Distância: 95,5 km
Altimetria: 1750 mts
Tempo de deslocação: 07:58h
Média deslocação: 12 km/h
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