Wednesday, August 5, 2009

Aventura Marroquina - Março 2008

Sábado 15 de Março de 2008 – o grande dia tinha chegado, a aventura ia começar.


Tinha andado a semana toda em preparativos, sendo que a arrumação final da bagagem tinha ficado para o dia anterior. A caixa com a bicicleta e algumas mochilas pesava cerca de 26 kg, o que me deixava preocupado com o excesso de peso. Acordei de madrugada e fui para o aeroporto. No check in correu tudo bem, e não paguei mais pelo peso extra. A viagem tinha escala em Casablanca.


Cheguei a Marrakech cerca das 14h e já se sentia algum calor. Aproveitei o Sábado e o Domingo para conhecer a cidade. No Sábado à noite chegou o meu companheiro de quarto, o Juan do País Basco. No Domingo chegaram o Gonçal da Catalunha e o Angel de Valência. Realizamos o Briefing com o organizador, também com o nome de Juan, no Domingo ao final da tarde. Fomos jantar e já nos deitamos tarde.


No dia seguinte acordamos às 4:30h para montarmos tudo no Jipe. Às 3:30h tinham chegado a Pilar e seu marido Roberto, devido a atraso de 3h no seu voo. Já não dormiram. Iniciamos uma viagem em direcção a Beni-mellal de cerca de 7 horas. Depois de realizado o abastecimento de água para toda a semana, paramos perto de uma aldeia chamada Tizi n’lsly onde montamos as Bikes e iniciamos a grande travessia do Atlas.



Dia 1: Eram cerca das 14h quando iniciamos. Neste primeiro dia estava previsto cerca de 51 km por asfalto, iniciados a uma altitude de 1400 mts, atingiríamos os 2 400 mts e finalizaríamos abaixo dos 2 200 mts.




Os primeiros 35 km foram tranquilos, em bom ritmo, enquanto apreciávamos a paisagem. Desde logo se notou diferença de ritmos dentro do grupo, sendo que o Roberto, o Angel e o Gonçal tinham um ritmo superior aos outros. Isso no entanto não influênciava o espirito gerado dentro do grupo que era muito bom. Estavamos todos animados, e enquanto pedalavamos, aproveitavamos para nos irmos conhecendo um pouco melhor, pois tirando o casal, ninguém se conhecia. Ao longo da etapa, iamos fazendo algumas paragem, ora para reagrupar, ora para almoçar ou tomar uma refeição leve. Com 35 km já tínhamos ganho 500 mts de altitude. Mas o grande desafio desta etapa era ganhar mais 500 mts em apenas 5 km, e assim do km 35 ao 40 foi sempre a subir. Eu subi sozinho pois tinha ficado para trás devido a problemas físicos.



Aos 2 400 mts ainda se via blocos de gelo, mas não se sentia frio devido ao esforço despendido. Sentia sim, alguma dificuldade de respirar, talvez devido à falta de hábito de pedalar a estas altitudes. Atingido o topo, restavam 10 km para o final, feitos sempre a descer. O grupo reagrupou novamente junto a um lago, e eles sim estavam com frio pois já estavam à minha espera a algum tempo. Chegamos perto das 19h a Imilchil.



A primeira etapa estava concluída.

A esta altura já me parecia que estava numa daquelas colonias de férias onde se vai aprender linguas, pois era já o terceiro dia que só ouvia falar espanhol, e pior do que isso, sempre que entrava nas conversas tinha de espanholar o meu português...sabem como é, um português a tentar falar Castelhano! Mas lá nos entendiamos.



Dia 2: No segundo dia, saímos às 8h para uma tirada de cerca de 86 km, em que nos primeiros 55 km subiríamos cerca de 500 mts de altitude para atingirmos o ponto mais alto do circuito, cerca de 2660 mts.

O dia amanheceu solarengo e limpo, e com uma temperatura óptima para um passeio de BTT.


Aproveitamos a calma da etapa para desfrutar de um publico infantil que sempre que nos via se dirigia para a berma da estrada e se deliciava com a nossa passagem, estendendo a mão para lhe tocarmos ou pedindo um "bom-bom" – já tinha sido assim no dia anterior e seria assim em todas as etapas.


Curioso as crianças andarem sempre sozinhas. São as mais velhas que tomam conta dos mais novos. As mães estão nos campos a trabalhar e os homens...estão encostados a conversarem uns com os outros!


O piso hoje começou com asfalto, mas durante uma distância curta. Depois entramos num piso de terra, mas em bom estado pelo que se rolava muito bem. Tivemos de passar várias vezes por um rio que serpenteava a montanha, situação que deu para animar o grupo e que deu para quebrar a rotina do andamento e propiciar situações para se tirar umas boas fotos.



A certa altura "encontramos" um outro grupo de BTTistas, acompanhados por outra empresa, e assim durante algum tempo formamos todos um grande pelotão. Uns quilometros à frente fizemos uma paragem num restaurante com esplanada, onde pudemos reagrupar, beber uma bebida fresca e comer uns frutos secos. Também por ali estavam uns turistas Israelitas que ficaram entusiasmados com a nossa chegada.



As aldeias ao longo do percurso, embelezavam o cenário, decorando o planalto. Alcançado o topo da etapa (2660 metros), fez-se mais uma pausa aproveitada para tirar as fotos da praxe. A profundidade do desfiladeiro era imponente, tal como toda a paisagem envolvente.



Depois iniciamos uma descida rápida de cerca de 10 km até aos 2 000 mts.

Aqui a adrenalina tomou conta dos mais afoitos, e foi vê-los a desaparecer a

uma velocidade impressionante. Os mais cautelosos ganharam uma dor de braços e pulsos, pois a descida nunca mais acabava. De seguida fizemos uma pausa para almoço numa pequena aldeia. No café, para meu espanto, estava afixado um mapa de Portugal – não questionei como foi ali parar!


O resto do trajecto contemplava um pouco mais de terra, para fazermos os últimos 15 km por asfalto até Tamtattoutch. À chegada, o GPS marcava 90 km realizados e 1 800 mts de altitude acumulada. Neste dia jantamos numa tenda com direito a música popular marroquina. Muito bom.




Dia 3: Dia de “descanso” pois a etapa era de apenas 35 km, por asfalto e praticamente sempre a descer – acabaríamos a 1 300 mts de altitude. A paisagem durante esta etapa era de uma beleza fantástica, pois a estrada seguia ao longo de um rio, por desfiladeiros enormes até à garganta de Todra, zona de interesse turístico.


O Juan teve um furo, primeira ocorrência do género até esta altura, mas hoje tínhamos tempo para tudo.




Na garganta de Todra paramos num hotel e aproveitamos para experimentar uma cerveja marroquina, coisa rara naquelas paragens (como muçulmanos, não lhes é permitido o consumo de álcool) – o que nos deu enorme prazer. Por ali haviam também tendas comerciais e muitos turistas, o que dava mais colorido ao local.



Algumas fotos, uma filmagem com câmara no capacete e lá seguimos viagem até à cidade de Tinerhir, passando a paisagem a conter palmeirais, o que já dava uma tonalidade verde no meio de tanto castanho. Chegamos a Tinerhir ao principio da tarde. O resto da tarde foi aproveitada para descansar um pouco e depois passear pelo palmeiral. Neste dia tivemos algumas situações de doença – o gonçal vomitou o almoço, eu fiquei com febre depois de jantar e o Juan tinha acabado a etapa com uma lesão no joelho.



Dia 4: 5h da manhã. Etapa de 110 km, iniciada perto dos 1 300 mts de altitude e contemplava cerca de 70 km sempre a subir até aos 2 300 mts. Depois desciamos até Nekob a cerca de 1050 mts. Eu não iniciei a etapa pois acordei ainda com febre, mas todos os outros iniciaram. Com cerca de 10 km percorridos, o Juan desistiu pois continuava com a lesão no joelho e lá subiu para dentro do carro.


Os outros iniciaram uma subida de cerca de 30 km com um frio que se sentia mesmo a subir em esforço. No final dessa subida, a Pilar sentiu-se indisposta, mas decidiu continuar. Com cerca de 40 km percorridos, e vendo que me sentia melhor, saltei para a estrada e fiz os 30 km que faltavam para concluir a ascensão da montanha.




No final da subida, a corrente do Angel partiu-se. Foi substituída e ele pode continuar. Nesta altura a Pilar desistiu e subiu para o carro de apoio – ainda assim para quem passou mal, foi um esforço fantástico. Já o Gonçal, que nem tinha tomado o pequeno almoço, lá continuou a sua demanda. Iniciamos a descida. Era cerca de 15 km de descida acentuada que ia dos 2 300 mts a menos dos 1 400 mts de altitude. Era uma descida desconfortável, muito técnica, que dava cabo dos braços e pulsos, pois tinha imensa pedra solta. Contudo a vista era soberba. E no final, estaria o almoço e um pouco de descanso.




Quando reiniciamos, apanhamos um vale de um rio, com bastantes palmeiras, e o trilho mais espectacular do circuito, pois permitia uma velocidade rápida entre sobes e desces, por entre palmeiras. Entretanto ainda haveria uma última subida de cerca de 100 mts de ganho de altitude, mas a partir daí até Nekob, era sempre a descer e o piso era bom. Mais uma vez perdi os meus companheiros e tive de esperar pelo carro de apoio para seguir o caminho certo. E assim lá concluí sozinho a etapa. A noite seria passada em Haimas (dentro de um albergue), umas tendas típicas do povo Marroquino. Após o banho, Eu apaguei com febre até à hora de jantar, mas o mais impressionante foi o Gonçal ter feito a etapa nas condições em que estava (não comeu praticamente nada durante todo o dia)!




Dia 5. 7:30h da manhã e uma surpresa. Começou a chover – ninguém queria acreditar. Raramente chove naquelas bandas. Lá nos preparámos todos para uma etapa que não parecia de dificuldade elevada, seriam cerca de 98 km iniciados um pouco acima dos 1 000 mts de altitude, iríamos até perto dos 1 200 mts e depois era sempre a perder altitude até aos 700 mts no final da etapa em Zagora.


Primeiros quilometros asfaltados, com uma pequena subida ao km 25 que deu para aquecer – a partir daqui era sempre a descer. A chuva havia parado por esta altura. O ritmo ia bom, sem ser exagerado. Depois entramos num trilho que tinha muita pedra, e assim foi durante cerca de 50 km.


Passamos pelo interior de uma aldeia, e como sempre um número significativo de miúdos veio nos ver passar. Aqui, foi a única vez que senti alguma agressividade, pois alguns deles corriam atrás das bicicletas e, com pedras na mão, pediam dinheiro de forma ameaçadora. Felizmente nada aconteceu. Um pouco mais à frente fizemos uma paragem para lancharmos.



Ao km 65 fiquei limitado do joelho esquerdo devido a uma dor que me apareceu, não podendo fazer esforços descendentes. Aguentei até à paragem para almoço ao km 75. Depois de almoço, após um pequeno descanso, resolvi tentar concluir a etapa.



Ao fim de uns quilometros entravamos no vale de Draa, passamos por dentro do palmeiral de Zagora (local muito bonito pelas milhares de palmeiras existentes) e passamos a pedalar em estrada asfaltada. O grupo esperou por mim e lá chegamos a Zagora perto das 16h, todos juntos e satisfeitos, pois o principal do circuito estava feito - sobravam 25 km para o dia a seguir. Tempo de descansar, visitar a cidade e recuperar um pouco.



Dia 6: 4:30h da manhã, e lá saímos para a estrada sem tomar o pequeno almoço, pois o objectivo era ver o nascer do sol nas dunas. Eu continuava lesionado, mas como a estrada era asfaltada e ligeiramente a descer lá conseguir ir, ainda assim a bom ritmo.



Confesso que aqueles 25 km foram difíceis de fazer, para além da lesão, por sentir o acumular do cansaço dos dias anteriores. Mas havia muita vontade de chegar e dar como concluída a nossa jornada por terras marroquinas.




Vimos o sol nascer no horizonte, divertimo-nos na dunas e tiramos mais umas fotos, estas já com sabor a saudade - tinha mesmo acabado.



Tomamos o pequeno almoço, e carregamos o carro para a viagem de regresso a Marrakech. Almoçamos em Ourzazate (Hollywood marroquina), e deslumbramo-nos com a passagem pelo Atlas, com a sua altitude, e uma paisagem deslumbrante.


Domingo De regresso a Marrakech, a manhã foi aproveitado para umas compras no Zoco e visitar mais alguns pontos turísticos. Após o almoço, foi a saída para Lisboa e o final da aventura africana.


Marrocos é um país muito interessante, de grandes contrastes, e apesar de ter conhecido muito pouco, felizmente conheci o lado menos turístico e mais autentico, o que foi muito gratificante.


O balanço final foi muito positivo. Apesar do esforço despendido e de algumas situações de saúde, foi uma semana fantástica, pois gerou-se um excelente espirito de grupo, conheci pessoas muito interessantes, e foi uma experiência que só me enriqueceu como pessoa. Um obrigado a todos eles, e também aos guias marroquinos, que foram inexcedíveis. A organização também esteve muito bem.


Agradeço também ao Pina da PINABIKE por me ter cedido a caixa para transportar a bicicleta, e pela revisão à bicicleta que mais uma vez se portou muito bem.


Agradeço especialmente aos meus Pais e irmão todo o apoio, acompanhamento e força que me deram na concretização deste “sonho” e por serem o verdadeiro pilar da minha vida.


Organização: http://www.nomadasport.com/

1 comment:

  1. Belas fotos e maiores saudades
    Fada Madrinha

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